Uma senhorinha anda, com passos curtos e apressados, por uma
rua escura, tarde da noite. Porta com elegância, na frente do corpo, uma
pequena bolsa semiaberta, e finas luvas branca cobrindo suas mãos. Os
sapatinhos de pequeno salto batem ora contra o cimento da calçada, ora contra o
asfalto mal-iluminado, fazendo um barulho alto demais para aquele ermo local.
Mal sabia ela que eram tempos difíceis. E perigosos.
Percebe-se um vulto atrás dela. É suspeito – nesses tempos,
todo se torna suspeito – e parece segui-la. Ela nota a movimentação,
assusta-se. Tenta, ao olhar para trás, enxergar melhor, mas a distância e a
péssima iluminação não colaboram. O vulto parece aproximar-se. A adrenalina
aumenta no corpo da senhora. As pernas bambeiam, as mãos começam a suar frio, a
vontade de olhar atrás aumenta.
Ela aperta o passo. Seu ritmo de andar aumenta, ainda
compassado. Está empregando o máximo de velocidade que seu frágil físico pode
oferecer. Não pode acelerar, nem diminuir – muito menos, parar. Onde ela estava
com a cabeça? Passar naquele bairro nobre porém deserto para cortar caminho...
Ouve-se um trotar vindo de trás. O medo cresce. Há um anseio por movimento –
por um carro que passe, por uma luz de poste mais próxima.
A senhora já ofega. Não aguenta mais, e o desespero aparece.
O homem aproxima-se, e ela reza. Chama sua atenção de forma brusca. Vendo a
cena, entende-se tudo.
Ele estende a mão e já vai falando:
-Deixou cair seu relógio.
Mais que rapidamente, ela saca o revólver .38 de dentro da
bolsa e coloca-o entre si e o homem dizendo:
- Certo, certo. Agora passe a carteira.
...São tempos difíceis. E perigosos.
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