Esta não é mais uma carta de amor, embora esteja entre outras tantas que jazem incompletas e morrem com rabiscos em meu caderno.
Não sei exatamente o que quer dizer; o que é de fato.
Mas sei que provoca lágrimas a cada vez que eu a leio.
Possivelmente, por me recordar de bons e maus momentos, que deixaram de ser comuns, reles, porque foram vivenciados com você.
Cada riso. Cada confidência. Cada conselho de verdadeira amizade. Cada elogio. Todas e cada uma das frases ditas... Tudo isso permanece em minha mente.
Mas, como o amor é deveras cruel, nunca me permite ter cada uma dessas boas lembranças como forma de recordar minha felicidade e sim, como aquilo que perdi ao te perder através dos meus erros tão levianos... O que não tive, a felicidade e a satisfação que não tive, e não poderei ter jamais, porque te fiz se afastar. Fiz-te ir embora.
E, claro, minha mente não pára de me lembrar das brigas. Rápidas, repentinas, confusas e fulminantes. Após cada uma delas, tanta coisa aprendi tão profunda melancolia me abateu que, possivelmente, à minha alma velha demais para meu corpo e com algumas marcas do meu exagerado sofrimento, foram acrescentados mais dez, vinte, cinqüenta anos. Mais cicatrizes dolorosas e chagas incuráveis cada vez que você saía pela mesma porta em que entrou da mesma forma que chegou: sem dizer nada.
Mais lágrimas sofridas a cada pedido de desculpas que me via obrigado a dizer, seja quando eu estava com a razão; seja por culpa de minha incoerência e de minha falta de lucidez.
No entanto, eu me tornava mais forte após cada vez que conseguia reconciliar-me contigo. Nós nos tornávamos mais fortes.
Mas nada disso bastou.
Não consegui fazê-la ver que, apesar de que “Não se pode confiar em ninguém”, e de que “Todo mundo mente”, eu não nasci para ser ninguém, e não sou todo mundo.
De que você, se quisesse, poderia colocar-se em meu lugar às vezes, mudar isso em você só para mim; e mudar só isso em você, para mim.
Não consegui, por causa do infortúnio que insiste em me perseguir e de algumas de minhas ações desmedidas, fazê-la confiar em mim e em minhas palavras quando digo que te amo, que você é linda, e que não vou te abandonar assim como todos os outros o fizeram – eu não sou todos os outros...
...E queria que soubesse disso...
Eu sempre estive disposto, por causa de tudo o que você me fazia sentir, a mudar minha vida por completo: ir morar num lugar completamente desconhecido para mim... Afastar-me das pessoas que amo... Enfrentar dificuldades além da minha capacidade e, até mesmo, transcender essa capacidade...
Mas isso pouco importava para mim. POR VOCÊ, iria conseguir, realizaria meus sonhos ao seu lado e, quem haveria de saber (?), teria contigo meu futuro reservado... E mesmo se acabasse antes de tudo isso, eu teria sido feliz por ter sido feliz contigo. Por tê-la feito, nem que tenha sido por um breve momento, feliz.
“Por que isso?”, podem me perguntar. Simplesmente porque eu penso que, quando se acha a pessoa perfeita, deve-se lutar por ela. Agradá-la, consolá-la, MUDAR por ela. E, principalmente, agarrá-la com toda a força e não deixá-la NUNCA MAIS, não importa o que aconteça.
É difícil ter que esconder do mundo tão intensa torrente de sentimentos. Dói.
Prometi a mim mesmo que não iria chorar. Mas não consigo. Pois tenho a vã esperança de que, algum dia, as lágrimas que hoje derramo te trarão de volta. De que os poemas sobre você, a musa pela qual tanto procurei, hão de encaminhar-te a meus braços. De que, algum dia, esta vida fadada à solidão conhecerá a verdadeira face da alegria ao teu lado.
Não sei se algum dia lerá isto. Mas, caso leia, quero que saiba: eu te amo. E alguma coisa, em algum lugar do meu coração, por trás dessa parede de tristeza e de emaranhados de sentimentos caóticos, diz que você sente o mesmo e se culpa por isso.
Eu te entendo... Mas você não vê.
Eu me importo... Mas minha ausência e sua sensibilidade provavelmente te cegam quanto a isso.
Pode ser que você não me ame, e que passe a me odiar ainda mais após ler isso. Mas eu não acho que tenha se esforçado tanto para dar certo, se declarado, muito menos que tenha mentido. Um lampejo de esperança por trás dessa mágoa me diz que tenho razão.
E, enquanto ele brilhar em mim, quero que saiba: eu te amo muito, mesmo. E até saber que a chama que arde em mim e em você se apagou, eu não vou desistir.