27 setembro 2011

Ausência temporária por tempo indeterminado

Queridos e muito caros leitores,
Ausentarei-me por um tempo do blog, o que significa que não postarei novos textos...
O motivo é que estou reunindo ideias para escrever um livro...!
Portanto, quero agradecer-lhes por sempre me acompanharem, e peço que me desejem sorte para a montagem desse livro!


Esperando vê-los em breve,


João Gabriel

16 setembro 2011

Transcrição


Escrever-vos-ei um texto,
mas não em linhas contínuas...
Que apesar de lhes agradarem,
não são, ainda, poesia.

Colocarei cada coisa, tal qual,
colocaria num texto igual;
e essas emoções contidas, condensadas
nos meus versos descontínuos,
rogo para que mais lhes toquem
que um texto frio e paragrafado,
cheio de coesão e coerência

Pois afinal, que coerência há em amar?
Que coesão necessita a alegria?
que num caos apenas nos ocorrem
pelo simples preço de um sorriso...?

E, afinal, não acheis
que cada palavra como lágrima;
e cada verso como um sorriso;
Que cada estrofe como um conjunto
de emoções lindamente caóticas
Não fazem de cada poema,
a transcrição de um coração?

14 setembro 2011

Morning Star

Olhem, estou tão feliz: meu primeiro soneto em inglês! me inspirei em escrever em outra língua após ver que o poeta brasileiro Manuel Bandeira não só traduzia textos em várias línguas, mas também escrevia os seus próprios...! Bem, espero que esse seja o primeiro de muitos, e também espero que gostem! -- Estou aberto a correções...!--



In the skies, so bright and clever
You’re more than you think you are
Alone? You won’t be, never!
Shine forever, Morning Star!

Smiles and lives like a flash
You are wonderful and infinite
And I, made of blood and flesh,
Have so much love that I can’t handle it

I know you fell for me too…
But, and if this love leaves you a scar?...
I’m afraid to hurt you, and feeling blue…

But you’re more than you think you are…
And even if I die on you
Shine forever, Morning Star!


Tradução:

No céu, tão brilhante e sagaz,
Você é mais do que pensa que é
Sozinha? Você não será, nunca!
Brilhe eternamente, Estrela da Manhã!

Sorri e vive como um clarão
Você é maravilhosa e infinita
E eu, feito de sangue e carne,
Tenho tanto amor que não consigo lidar com ele

Eu sei que você se apaixonou por mim também...
Mas, e se esse amor te deixar uma cicatriz?...
Tenho medo de te machucar, e me sinto triste...

Mas você é mais do que pensa que é...
E, mesmo se eu morrer em você,
Brilhe para sempre, Estrela da Manhã!





11 setembro 2011

As trevas


É noite, e as trevas tomam meu mundo. Tão densas quanto possível, quase se pode tocá-las.
Um triste temor se apossa de minha razão, a estranheza da obscuridade, o que se oculta nas sombras intimida.
Uma temível tristeza me arrasta para as trevas. No seio do negro do mundo, nada me pode ver; nada me pode iluminar; nada me pode guiar.
Aqui, o tempo não passa, o vento não sopra, o peito não sente, o peito não sofre... As lágrimas se prendem, e quando caem, se perdem. Não mais há medo, não há mais nada. Há o silêncio da madrugada de um mundo que dorme, e no qual, só meus olhos brilham mais que a Lua.
Não há vida, só a Morte... A morte das cores, dos risos, das imagens; a morte das tristezas e dos males.
Não há, no seio das trevas, mais nada a se temer.
Porque eu me tornei a sombra, a escuridão esguia que foge da luz; a treva que traz a serenidade, ou o pesadelo.
Não há mais nada a temer, pois hoje eu sou o escuro do mundo.

09 setembro 2011

As folhas de outono


Pé ante pé. Vacilante, porém, persistentemente. A pesada vestimenta o impedia de mover-se mais rápido e, somado à força com que o vento fustigava-o, o peso de suas roupas aumentava.
Sinceramente, não se importava por estar andando tão vagarosamente. Com toda a certeza que era um longo caminho, de volta para sua casa; mas após outro dia tão cansativo e frustrante como esse havia sido, precisava muito andar. Aliviar sua mente tão carregada – sobrecarregada – de emoções indistintas.
Observava, portanto, a bela paisagem de outono que começava a se formar naquelas paragens...
Ele adorava ver as douradas copas das árvores que cercavam cada alameda pela qual passava e, ainda mais, maravilhava-se com a tempestade que a queda das folhas e as próprias folhas que por terra estavam, somadas à intensa ventania, proporcionavam aos seus sentidos e emoções.
Tons de laranja, marrom, vermelho, amarelo e dourado mostravam-se caoticamente diante de seus olhos, numa espiral que levava do chão ao céu, do céu a... (onde?!)
Envolviam-no numa torrente de cores, imagens e memórias incoerentes, e representavam para ele o único momento de felicidade palpável. Uma felicidade que, mesmo simples, singela, era tanto poética, acessível e, diferente de suas outras concepções de felicidade, era real.
Flutuou por alguns instantes, numa sensação mista de euforia e serenidade extremas; flutuou misturando a cor de sua alma à cor das folhas outonais, e desejando que o vento o levasse para longe, longe... Desejando que o vento o libertasse.
No entanto, aquele momento incrível, infinito em emoções e beleza, não passou disso, de um momento. A ventania diminuiu, como que para obrigar as folhas a cumprirem seu destino, a aceitarem-se mortas. E elas realmente desistiram, e fizeram da terra seu leito final.
Tudo isso também fez com que o jovem cessasse de pairar sobre o chão, retornando imediatamente após o fim desse fenômeno. Mas não interrompeu o confuso fluxo de pensamentos desgarrados.
Continuou andando, meditando, meditandando... Não mais enxergava as pessoas, não mais distinguia seus rostos. Passava por elas conhecendo a todas, e ao mesmo tempo, nenhuma.
Não mais se recordou de rostos outrora conhecidos; rodeado de gentes por todos os lados, estava sozinho.
Era com se cada um representasse uma miragem, uma imagem empírica de felicidade inacessível; inalcançável e nebulosa; e como se ele próprio estivesse preso numa cúpula de diamante, e não pudesse ver, ouvir ou tocar nada nem ninguém.
Finalmente estava sozinho, finalmente alcançara a solidão. Mas agora, procurava uma forma de se ver livre dela.
Encaminhava-se para a ponte, ia ver o rio. Quem sabe o rio não traria em suas águas uma reposta? Quem sabe não carregaria suas tristezas, que fluiriam no rio até se dissiparem, para sempre...?
Sentou-se à beirada da ponte que atravessava o rio, e só pôde imaginar, ao observar aquelas águas límpidas e argênteas, seu corpo caindo, transformando-se em douradas folhas de outono. Talvez pensasse nisso como um sonho porque era tudo o que mais queria naquele momento, e a única coisa, pensava ele, que iria libertá-lo.
Pular, não temendo o abismo no qual cairia vertiginosamente; não temendo a queda, não temendo a dor, não temendo a Morte. A força do vento desfalecendo seu corpo e fazendo com que virasse todo folhas, pairando eternamente; suas lágrimas, essas perdurariam...Permanecendo lágrimas, unir-se-iam às águas e correriam, correriam, caindo no mundo como lágrimas novamente quando Deus chorasse em chuva sobre o mundo...
Deixaria de sentir-se solitário unindo-se completamente ao organismo natural, à Terra...
Mas voltou seus olhos a outro lugar, e vislumbrou um brilho, mesmo com sua mente enevoada por completo. E, aos poucos, via mais claramente que era o brilho de um olhar, o brilho improvável de olhos de um castanho profundo (como o das vívidas folhas mortas de outono...), que o atraiu de tal forma que o jovem soube que aquele brilho poderia libertá-lo.
Um rosto! Seu coração novamente pulsava – e feroz, pulava em seu peito, pareceu-lhe que a qualquer momento iria simplesmente fugir-lhe de dentro do corpo... A única coisa que pôde fazer foi dar um sorriso, embora completamente carregado de melancolia...
Surpreendeu-se quando  ela retribuiu seu sorriso; e foi sentar-se a seu lado.
Conversaram, e cada um com sua voz repleta, impregnada do que continham seus corações: pura emoção. Vidas curtas, almas envelhecidas pela tristeza; corpos jovens, e almas, e mentes seculares.
Aos poucos, sentiam-se rejuvenescidos, completos um pela presença do outro. Trocaram suas palavras, sentimentos e segredos por horas, e o crepúsculo se aproximava. O sol já se aproximava do horizonte, pintando no céu uma aquarela em tons rubros, áureos, púrpura...!
E ele perguntou:
- Por que estava tão triste?
- Porque estava sozinha.
- Estava?
-Sim, estava. Agora tenho você...
Ela deu uma pausa, tomada pela comoção. Então, continuou:
- Promete nunca me abandonar, como todos os outros fizeram?
Resoluto, e apaixonado, afirmou:
- Eu prometo...
- E você... Promete que vai ficar do meu lado...? – ele disse ainda
- Prometo – respondeu ela, sincera e igualmente apaixonada
Puderam, então, perceber...
Ele realmente era diferente dos outros... E ela realmente valia a pena...
Valeria a pena, desta vez, pra cada um deles, mudar, se entregar e se dedicar ao outro... Ver nele o príncipe... Ver nela a princesa... Fazer planos, loucuras e desejos... E essa sensação era tão intensa, viva, real, que nada, nem ninguém, nem os infortúnios, e nem as brigas, haveriam de fazê-los descumprir a promessa; não os fariam deixar de amar um ao outro.
E ao entrelaçarem suas mãos, num acaso perfeito, pela primeira vez em suas vidas puderam sentir o calor que inundava seus corpos, e todos os seus sentimentos, e idéias, e sonhos...
Pela primeira vez em suas vidas, ao olhar para o rio no último instante abençoado pela luz do sol, puderam ver seus reflexos que se completavam; suas tristezas, que se consolavam; suas lágrimas, que se secavam; seus corações, que se uniam.

08 setembro 2011

Soneto de Sofrimento


Se o remorso é insuportável,
Então que sentem os meus assassinos?
Matam-me com sorriso amável,
...E humilham-me, sendo meninos!

E caso condene-se mesmo o crime,
Por que são impunes os meus algozes?
Enforcam meu peito com duro vime,
... E minha mente com frases atrozes!

Onde está o amor que pague,
Tantos castigos meus sob o açoite,
Tanto sangue vertido pelo azorrague?

E onde está o dia e tão densa noite?
E não há por que invejar,
Por que, sempre, hão de me torturar...?

Em vão...


De que adianta escrever,
Se meu peito não se esvazia?
As lágrimas que não posso verter
Contém treva em demasia...

E, de que me adianta chorar,
Se não há mais por quem fazê-lo?
Dedicar a quem tanto zelo?
Se esse alguém não irá notar...?

De que me adianta ser livre?
Abraçar com afã a liberdade...
Se uma faca em meu peito se crive,
E sou preso, por mi’a pueril idade!

De que me adianta crer na esperança,
Ter nela alegria plena!?
Se, mesmo com temperança,
A esperança não vale a pena?

De que me adianta ter alegria?
A expectativa tresloucada...
Já que sei: não passa de uma fantasia,
Que me vai ser arrancada...

De que me adianta crer no mundo,
Sorrir aos outros, quando estou triste?
Quando têm com sabre em riste,
Meu peito inocente e moribundo

De que me adianta amar,
Se tanto já sofri por isso...
Encher-me de idéias, me devotar...!
Caindo, em seguida, em profundo abismo...

De que, de que me adianta sentir?!
De que me serve possuir uma amada?
Para que meu coração abrir,
Se dentro dele, já não jaz mais nada...?

05 setembro 2011

O Caçador de Sonhos

       Saudações, meus amigos leitores! Este é um texto modificado cujo original escrevi há quase um ano atrás, no dia 20/10/2010. Incrementei alguns - muitos- elementos nele a fim de melhorá-lo e... Espero que gostem!       


       Era um homem sociável, inteligente, que possuía tudo na vida: amigos, uma bela casa, uma família unida... O sonho de qualquer pessoa.
       No entanto, em seu coração se propagava um profundo rancor, uma inveja torpe que se alastrava e dominava cada dia mais seu peito; uma mancha obscura, um verdadeiro câncer em seu caráter impecável, que o fazia roubar os sonhos dos outros.
       Não os roubava para si; roubava, arrancava cada um dos sonhos, sentimentos e prazeres para, em seguida, massacrá-los e jogá-los pela janela de seu carro importado.
       Se alguém possuísse uma ambição, uma meta, e tivesse meios de alcançá-la, o homem, tal qual um parasita, ia até a pessoa e sibilava em seus ouvidos palavras que eram capazes de retalhar completamente seus desejos, fazendo com que a pessoa ficasse desmotivada, deprimida, e desistisse de seus sonhos.
       O homem fazia isso com tremenda frieza e naturalidade. Não sentia remorso algum ao praticar tais atos. Na verdade, pode-se dizer que roubar e assassinar sonhos havia tornado-se um hobby.
       Mas, um dia, ele notou um jovem repleto de brilhantismo, de planos para seu futuro, de possibilidades, vontades, desejos, oportunidades, sentimentos, conflitos... E tudo isso fazia emanar uma aura cuja luz era repulsiva aos olhos cegos e ao coração negro do homem.
       Então, ele decidiu-se por acabar com aquela luz.     
       Aquilo se tornara uma obsessão. Por mais que o homem que roubava sonhos roubasse o jovem, sempre apareciam novas ideias, com um vigor ainda maior do que antes. O homem não entendia o porquê dessa resistência, e isso o deixava ainda mais louco, perturbado.
       Suas feições mudaram: o cabelo, antes sempre asseado e bem aparado, encontrava-se agora grande e muito desgrenhado; os olhos perderam o brilho e ficaram opacos, sempre fixos e distantes; sua barba estava por fazer; enfim, estava deplorável. Havia deixado de lado seus deveres côo pai de família e obrigações como trabalhador, tudo para pensar numa forma de frustrar, acabar com o garoto.
       E ainda assim, o homem não conseguia afetar a mente e os sonhos desse jovem.
       Ensandecido, o homem chegou à conclusão de que deveria matar o jovem. Então, pela primeira vez – talvez em toda a sua vida – sua consciência o alertou de que estava indo longe demais.
       Sofrendo em razão de fortes conflitos, o homem entrou num torpor febril, calafrios percorriam-lhe o corpo inteiro, pensamentos e ideias sem nexo vinham-lhe a mente a todo o momento...
       ...E ele vislumbrou, novamente, a odiosa luz que emanava o jovem.
       Guiado por sua idéia fixa, saiu pela cidade em busca de seu inimigo, mas não sem antes sabotar cada uma das coisas que pareciam mover aquele jovem infeliz.
Encontrou-o, usou- se de sua dialética mais cruel... E finalmente conseguiu.
       Destruía os sonhos do jovem de maneira devastadora; decepava cada um deles vagarosamente, com a foice cega de sua maldade; torturava-o dolorosamente no processo; e fazia questão de dilacerar cada um deles na frente do pobre rapaz, enquanto um sorriso vil crescia desmedido, em seu rosto, tomando-o completamente. Seus olhos injetados de sangue estavam ainda mais nublados pela nuvem do rancor que os encobria.
       O jovem, diante de tamanha maldade, saiu correndo, sem saber aonde ir, sem saber o que fazer. Acabou por tentar suicídio, cortou os pulsos. Felizmente, encontraram-no a tempo, e o levaram a um hospital.
       Ao saber do ocorrido, o homem sentiu uma forte dor em seu peito: seu coração desvencilhava-se do tumor que o possuía. Começou a bater – talvez pela primeira vez em sua vida. E um enorme sremorso tomou conta daquele homem. Resolveu-se por ir visitar o jovem no hospital.
       Chegando lá, deparou-se com ele completamente exangue, já moribundo. Mas ainda repleto de esperanças, expectativas. Mais ainda do que possuía quando estava saudável.
       Completamente estupefato, o homem fez uma coisa que nunca havia feito antes:
       - Quem é você? Que tipo de pessoa pode ter tantas esperanças mesmo na hora da morte? Por que, e como fez isso comigo?:
       Começou a chorar, emocionado, e surpreendeu-se por estar fazendo aquilo.
       Então, como se um raio de sol brilhasse diretamente nos olhos do homem e dissipado as nuvens de insanidade que ainda insistiam em cobrir seus olhos, o homem pôde ver mas claramente.
       Enxergou, no jovem, um pouco – não, MUITO de si mesmo naquela idade! E tantos sonhos que foram por água abaixo, enquanto todos à sua volta realizavam seus próprios sonhos...
       E o jovem, antes de morrer, abriu um último sorriso, que clareou de vez a mente só homem e que serviu como uma verdadeira punhalada em seu peito, tamanha era a dor, a tristeza que sentia por ter feito aquilo. Então, em suas últimas palavras, disse o jovem:
       -Ora, você sabe quem sou eu, e o que vim aqui fazer por você, meu pai...


03 setembro 2011

Dénouement



Num beco sem saída, me prende
Fujo, os nós se desenlaçam
Abraça-me - ao meu corpo e à minha mente
E, num beijo, nossos corpos se entrelaçam

Num jogo sem vitória, cá estamos
Sozinhos, e amantes, e carentes...
Às cegas, libertados, nos amamos...
Em meio ao frio do mundo, estamos quentes

Enquanto juntos, muito te desejo
Uma paixão ardente, sem amarras
Em teus olhos percebo um lampejo:
Teu coração não mais é preso por barras

Depois de tudo isso, só te abraço
Não quero, não mais, te soltar...
Quero mesmo é ficar preso ao teu laço
                          Quero aos teus gracejos me entregar...

Soneto das Flores


Dentre belos lírios e margaridas
Dentre tantos bem-me-queres e rosas
Hibiscos e violetas floridas,
Dentre as aves que pairam gloriosas

Vejo-te, e em todas as coisas mais belas
Luz do sol, borboletas amarelas
No centro de tudo, a Rosa vermelha
O meu amor, que incendeia em centelha

Que me atrai por entre esses verdes campos
Que onde, durante o negro crepúsculo,
Brilham teus lindos olhos, - pirilampos

Me conduz por essa dourada estrada
Quem sabe para onde – ao paraíso?
Sim, ao meu paraíso: à minha amada

Manifesto Classicista


       Estava passeando num museu, observando determinada exposição de arte moderna. Distraído, entediado com aquelas obras, cujo significado, sinceramente, não me comovia, peguei uma goma de mascar. Botei-a na boca e procurei por um lugar onde poderia descartar a embalagem.
       Achei uma lata de lixo, estava prestes a jogar a embalagem quando um funcionário do local me repreendeu:
       -Senhor, por favor, não toque nisto.
       -Por que não?
       Visivelmente ofendido, ele me respondeu, com ares de superioridade:
       -Ora, não vê? Isso é uma obra de arte! – colocou tanta pompa nessas últimas palavras que cheguei a me enojar. – Com licença, por gentileza. Esta exposição não tem lugar para pessoas sem senso crítico para reconhecer a verdadeira arte...!
       Ele havia aumentado intencionalmente seu tom de voz, para que todos os presentes voltassem suas atenções para mim. Fiquei extremamente constrangido com aquilo, meti a causa daquilo tudo em meu bolso, e saí quase correndo do museu.
       Já em casa, pensando melhor sobre o ocorrido, cheguei a uma conclusão.
       Toda aquela “arte” moderna, que transforma a liberdade artística em pura libertinagem; protesta sem qualquer princípio, e fins (quais?!) que não justificam seus caóticos meios inexistentes; e confunde o espectador que tenta interpretá-los, em vez de “ajudá-lo a viver e prepará-lo para a morte”; na verdade, penso que essa arte não deveria ser representada por uma lata de lixo...
       Concluí que, definitivamente, deveria ser o que se encontra dentro dela.

01 setembro 2011

... Como um jogo de xadrez.


       
       ...É como um eterno jogo de xadrez. Cada um tentando pôr em xeque o rei, o coração do jogo do outro, seja para conquistá-lo, seja para derrubá-lo. Será sempre assim.
       No entanto, eu me encontro em desvantagem: você é capaz de prever todos os meus movimentos. Por mais que eu pense duas, três, mil vezes; por mais que eu tente te surpreender, optar pelo óbvio ou até mesmo trapacear, não consigo me armar ou te vencer.
       Sem êxito por meio da lógica, vou pelas sendas da sensibilidade. Quem sabe através das palavras, ações, gestos, emoções, posso te persuadir...?
       E – surpresa! -, até que dá certo... Mas, há um – não, dois poréns.
       Sinto-me muito mal por desistir da “estratégia” e apelar para a emoção. Virar o tabuleiro a meu favor assim, numa atitude fora do jogo. Distraindo-te desse jeito.
       E, o segundo “porém”: se eu não toco sua sensibilidade, é ela que me toca. Ou melhor, me apunhala bem devagarzinho que é para eu sentir mais dor; ou o gosto metálico em minhas entranhas; a frieza que sou obrigado a engolir.
       E então, num movimento particularmente brusco para seu (comumente cauteloso e direto) estilo, você deixa vulnerabilidades à mostra.
       Mas, sinceramente, isso pode ser “como” um jogo de xadrez...
       ...No entanto, não é xadrez, o amor não é um jogo...
       Não tem vencedores!
       Embora você deixe suas fraquezas à mostra; embora estejamos de lados opostos, não precisa ser assim.
       A todo o momento, procuro ignorar seus erros, ocultar suas falhas, aceitar sua estratégia e, acima de tudo, te convencer a ficarmos lado a lado.
      Por quê? Bem, deixo-me vencer, facilito a vitória, mostrando-lhe minhas forças e fracassos, imperfeições e grandezas.
       Tudo porque, apesar de você ainda não ter percebido, já conseguiu conquistar o meu rei, conquistar o CORAÇÃO do meu jogo, há muito tempo.
       Xeque-mate.