18 agosto 2011

O suicida

       Era um rapaz muito infeliz.
       Estudante de Engenharia, gostava, no entanto de Direito – só cursava Engenharia por pressão familiar. Morava em um sobrado pequeno e relativamente antigo, apesar de receber uma boa mesada de seus pais – não sabia administrar seu dinheiro.
       E, por fim, era um amante platônico. Após a traição de sua (ex) namorada, pensou em seguir sozinho até o fim de seus dias... Até se apaixonar pela jovem que morava na casa em frente ao sobrado.
       Eles se viam todos os dias, trocavam formalidades, e... Era só isso. Nada mais.
       Apenas os sonhos dele sobre o dia em que conversariam de verdade.
       Uma noite, iria fazer trabalho na casa de um amigo. Desceu as escadas, já se preparava para partir quando a viu, mais bela do que jamais havia antes visto...
       Sua beleza simples: cabelos loiros que ficavam presos num coque; olhos de um verde profundo, cuja formosura era escondida praticamente o tempo todo por grandes óculos de grau; seus graciosos membros e tez suave, quase sempre encobertos por calças jeans e trajes excessivamente grandes ou pouco femininos; seu rosto de formas suaves e bem dispostas, o qual nunca vira maquiado; e seus lábios finos, que sempre se contraíam para ele num belo sorriso – essa beleza estava mudada.
       Havia soltado seus cabelos, que caíam, elegante e naturalmente, por seus ombros; tirou os óculos, seus olhos verdes formando um conjunto simplesmente angelical com suas sobrancelhas perfeitamente delineadas e cílios longos, usava um vestido negro que lhe expunha os delicados braços e ombros, ambos suaves como um pêssego; suas pernas torneadas e o decote de seu vestido mostravam o jovem uma face sensual daquela moça que ele nunca havia visto antes. E uma suave maquiagem, coroada com um batom vermelho, deixava seu sorriso ainda mais encantador.
       O jovem ficou embasbacado diante de tanta beleza... Entretanto, a presença de um companheiro o tirou de seu transe. Um rapaz de terno saiu de dentro da casa dela, conduziu-a a um carro e foram embora.
       A imaginação fértil de um apaixonado entrou em ação: supôs que aquele era o namorado da moça, que não teria chance alguma com ela. Entrou, portanto, em profunda depressão.
       Esquecendo-se de tudo e todos, subiu de volta a seu apartamento, disposto a despedir-se daquela sua vida medíocre.
       Invadiu, ensandecido, seu apartamento, procurando por algum tipo de corda na qual pudesse se enforcar. Contentou-se com um cinto.
       Procurou um lugar alto o suficiente para se pendurar; sem paciência para escrutinar seu apartamento com mais atenção, posicionou o cinto na base de uma das hastes do ventilador de teto que havia em seu quarto, e deixou a fatídica cadeira embaixo de si.
       Enrolou o cinto em redor do próprio pescoço, lágrimas de nervosismo e profunda tristeza escorriam por seu rosto e o coração parecia prestes a explodir. Aos poucos, foi caminhando para fora da cadeira.
       No terceiro passo, seu pé encontrou o vazio.
       O terror que tomou seu corpo e sua mente não pode ser descrito. Estava suspenso, segurando seu pescoço desesperadamente na tentativa de soltar-se do cinto.
       Como um pêndulo, ele balançava, retorcendo-se na agonizante asfixia à qual estava sendo submetido. Seu rosto ficara completamente roxo, ele debateu-se ainda mais fugazmente, em vão, pensava. Quando começava a ficar inconsciente, a pá do ventilador em que estava pendurado se parte, fazendo-o cair no chão.
       Completamente desesperado, retirou o cinto de seu pescoço e inflou o peito, em busca de ar. Já ofegante, e conseguindo com que sua respiração e pulso se normalizassem, fechou os olhos e pensou: não teve coragem de enforcar-se... Será que deveria pular do topo de um prédio? Cortar os próprios pulsos? Afogar-se, ligar o gás, entupir-se de remédios e álcool?
       ...Ou será que estava sendo muito radical? E até mesmo, covarde, em vida? Por que não tentava alguma coisa, procurava um novo amor...?
       Aproveitava a vida ou até mesmo procurava saber mais sobre sua vizinha – se declarava para ela!?
       Após várias horas, tomou uma decisão. Ergueu-se, embora com dificuldade, bebeu água, saiu como um louco pela porta da frente do sobrado, a fim de se declarar para a linda menina.
       O problema é que ele se esqueceu de que a moça ainda não havia chegado da festa de formatura de seu irmão – com quem tinha ido.
       E se esqueceu de olhar para os dois lados da rua antes de atravessar. Não percebeu quando o carro em que estavam sua vizinha e o irmão dela cortava a rua numa velocidade alta demais para aquela via.
       Quando nosso jovem deu por si, não havia forma de desviar. 
       Ou de evitar o impacto.

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