05 setembro 2011

O Caçador de Sonhos

       Saudações, meus amigos leitores! Este é um texto modificado cujo original escrevi há quase um ano atrás, no dia 20/10/2010. Incrementei alguns - muitos- elementos nele a fim de melhorá-lo e... Espero que gostem!       


       Era um homem sociável, inteligente, que possuía tudo na vida: amigos, uma bela casa, uma família unida... O sonho de qualquer pessoa.
       No entanto, em seu coração se propagava um profundo rancor, uma inveja torpe que se alastrava e dominava cada dia mais seu peito; uma mancha obscura, um verdadeiro câncer em seu caráter impecável, que o fazia roubar os sonhos dos outros.
       Não os roubava para si; roubava, arrancava cada um dos sonhos, sentimentos e prazeres para, em seguida, massacrá-los e jogá-los pela janela de seu carro importado.
       Se alguém possuísse uma ambição, uma meta, e tivesse meios de alcançá-la, o homem, tal qual um parasita, ia até a pessoa e sibilava em seus ouvidos palavras que eram capazes de retalhar completamente seus desejos, fazendo com que a pessoa ficasse desmotivada, deprimida, e desistisse de seus sonhos.
       O homem fazia isso com tremenda frieza e naturalidade. Não sentia remorso algum ao praticar tais atos. Na verdade, pode-se dizer que roubar e assassinar sonhos havia tornado-se um hobby.
       Mas, um dia, ele notou um jovem repleto de brilhantismo, de planos para seu futuro, de possibilidades, vontades, desejos, oportunidades, sentimentos, conflitos... E tudo isso fazia emanar uma aura cuja luz era repulsiva aos olhos cegos e ao coração negro do homem.
       Então, ele decidiu-se por acabar com aquela luz.     
       Aquilo se tornara uma obsessão. Por mais que o homem que roubava sonhos roubasse o jovem, sempre apareciam novas ideias, com um vigor ainda maior do que antes. O homem não entendia o porquê dessa resistência, e isso o deixava ainda mais louco, perturbado.
       Suas feições mudaram: o cabelo, antes sempre asseado e bem aparado, encontrava-se agora grande e muito desgrenhado; os olhos perderam o brilho e ficaram opacos, sempre fixos e distantes; sua barba estava por fazer; enfim, estava deplorável. Havia deixado de lado seus deveres côo pai de família e obrigações como trabalhador, tudo para pensar numa forma de frustrar, acabar com o garoto.
       E ainda assim, o homem não conseguia afetar a mente e os sonhos desse jovem.
       Ensandecido, o homem chegou à conclusão de que deveria matar o jovem. Então, pela primeira vez – talvez em toda a sua vida – sua consciência o alertou de que estava indo longe demais.
       Sofrendo em razão de fortes conflitos, o homem entrou num torpor febril, calafrios percorriam-lhe o corpo inteiro, pensamentos e ideias sem nexo vinham-lhe a mente a todo o momento...
       ...E ele vislumbrou, novamente, a odiosa luz que emanava o jovem.
       Guiado por sua idéia fixa, saiu pela cidade em busca de seu inimigo, mas não sem antes sabotar cada uma das coisas que pareciam mover aquele jovem infeliz.
Encontrou-o, usou- se de sua dialética mais cruel... E finalmente conseguiu.
       Destruía os sonhos do jovem de maneira devastadora; decepava cada um deles vagarosamente, com a foice cega de sua maldade; torturava-o dolorosamente no processo; e fazia questão de dilacerar cada um deles na frente do pobre rapaz, enquanto um sorriso vil crescia desmedido, em seu rosto, tomando-o completamente. Seus olhos injetados de sangue estavam ainda mais nublados pela nuvem do rancor que os encobria.
       O jovem, diante de tamanha maldade, saiu correndo, sem saber aonde ir, sem saber o que fazer. Acabou por tentar suicídio, cortou os pulsos. Felizmente, encontraram-no a tempo, e o levaram a um hospital.
       Ao saber do ocorrido, o homem sentiu uma forte dor em seu peito: seu coração desvencilhava-se do tumor que o possuía. Começou a bater – talvez pela primeira vez em sua vida. E um enorme sremorso tomou conta daquele homem. Resolveu-se por ir visitar o jovem no hospital.
       Chegando lá, deparou-se com ele completamente exangue, já moribundo. Mas ainda repleto de esperanças, expectativas. Mais ainda do que possuía quando estava saudável.
       Completamente estupefato, o homem fez uma coisa que nunca havia feito antes:
       - Quem é você? Que tipo de pessoa pode ter tantas esperanças mesmo na hora da morte? Por que, e como fez isso comigo?:
       Começou a chorar, emocionado, e surpreendeu-se por estar fazendo aquilo.
       Então, como se um raio de sol brilhasse diretamente nos olhos do homem e dissipado as nuvens de insanidade que ainda insistiam em cobrir seus olhos, o homem pôde ver mas claramente.
       Enxergou, no jovem, um pouco – não, MUITO de si mesmo naquela idade! E tantos sonhos que foram por água abaixo, enquanto todos à sua volta realizavam seus próprios sonhos...
       E o jovem, antes de morrer, abriu um último sorriso, que clareou de vez a mente só homem e que serviu como uma verdadeira punhalada em seu peito, tamanha era a dor, a tristeza que sentia por ter feito aquilo. Então, em suas últimas palavras, disse o jovem:
       -Ora, você sabe quem sou eu, e o que vim aqui fazer por você, meu pai...


Um comentário:

  1. Muito bom, e imprevisível também!Gosto de textos com segredo escondidos,e pra falar a verdade gostei também da ênfase que deu nas emoções,não descrevendo a cena propriamente dita mas sim o efeito emocional!Parabéns pra vc e um ótimo restinho de semana!Abração!

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